sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O FIM DO MITO DA MORALIDADE SECULAR

O FIM DO MITO DA MORALIDADE SECULAR

Em sua mais famosa obra, fundamentos da Bioética, H। Tristram Engelhardt, Jr।, joga uma pá de cal na arrogância ocidental de pretender estabelecer uma moralidade única, verdadeira, superior às moralidades ditas periféricas, que não comungam dos mesmos ideais, do dito sujeito cosmopolita, que julgamos ser todos nós, consumidores contumazes da coca-cola, Mac Donald´s, Hollywood e porque não dizer, do queijo e vinho franceses.
Engelhardt derruba uma após outra as teses que dão sustentação ao mito da possibilidade de uma moral única, secular, sob a égide da qual deveria viver toda a humanidade, dita civilizada. Ele nos mostra o valor das comunidades “alternativas” e a importância de se respeitar às diferenças para que a partir da pluralidade de valores se construam “novas moralidades”, caso seja possível, ou ainda mais fundamental, que se aprenda a conviver com o que ele denomina: estranhos morais, que nada mais são que sujeitos que não compartilham premissas ou regras “normais” de evidência e inferência suficientes para resolver as controvérsias morais por meio de uma sadia argumentação racional, ou que não têm um compromisso comum com os indivíduos ou instituições dotadas de autoridade para resolvê-las, no dizer do próprio autor
Ao fazer a apresentação de obra em comento, o Professor Volnei Garrafa, Chefe do Departamento de Bioética da UnB e presidente da sociedade Brasileira de Bioética aduz que, “segundo Engelhardt, a moralidade de uma bioética secular não serve como orientação para viver a vida; pelo contrário, significa uma moralidade capaz de vincular pessoas que sejam estranhos morais para que se encontrem e colaborem pacificamente...”.
No dizer da Professora Débora Diniz, da Universidade Católica de Brasília, ao comentar o ensinamento de Engelhardt, “a pluralidade existe, é boa e deve ser preservada. O conflito, no entanto surge ao aparecerem as diferenças. O que o gera é a intolerância diante da diferença. Ou, nas palavras de Engelhardt, o que gera o conflito é a intolerância diante do exercício da liberdade, no seu entendimento, a solução para o conflito é simples: a possibilidade de manutenção da diferença por meio da tolerância e da liberdade. Sua preocupação não esta no conflito, mas naquilo que o gera.”
Em nosso cotidiano somos bombardeados diuturnamente com mensagens diretas e sublineares de princípios de moralidade padronizados que nem sempre são os nossos, mas que tentam nos impor pelo poder da argumentação, centradas em premissas nem sempre verdadeiras, ao menos sob o ponto de vista de muitos. Tais fatos não deixam de ser um desrespeito ao pluralismo de idéias, gerando conflitos comportamentais e por conseqüência desestruturando a família, célula mater da sociedade, que faz parte tanto da moralidade secular como da canônica.
Ter tolerância pelo pluralismo parece ser essencial para que consigamos evitar o conflito entre os estranhos normais. A ditadura de uma visão única ao mundo surgiu no ocidente, com Roma e, sobretudo com o cristianismo Católico Romano (ex: cruzadas e jesuítas na América latina).
Sob a ótica da moral religiosa essa possibilidade de uniformidade do pensamento cristão ocidental foi frustrada por Lutero, em 1517, surgindo a posterior novas cisões. Posteriormente em 1859 a evolução das espécies, de Darwin, pois em cheque, talvez pela primeira vez, de maneira tão convincente, a moralidade canônica.
A partir daí surge os primeiros sinais da moralidade secular, de forma fracionada, é verdade. Estado e igreja já não são a mesma coisa, cada qual passa a exercer sua função de forma independente. Surge o pluralismo de sentimentos e crenças morais que habitam nosso cotidiano.
E finalmente, no dizer de Engelhardt, “o fracasso do moderno projeto filosófico em descobrir uma moralidade canônica essencial constitui a catástrofe fundamental da cultura secular contemporânea e enquadra o contexto da bioética hoje.”.

Nenhum comentário: